O termo “nômade digital” parece ser a profissão dos sonhos por excelência: viajar o mundo apenas com um notebook debaixo do braço e o básico para viver, fazendo seu próprio horário em cafés ou à beira da praia, visitando um destino atrás do outro e riscando inúmeros países da sua lista de lugares para visitar antes de morrer.
“Nômade digital” não é uma profissão, mas uma escolha de estilo de vida: uma opção hoje disponível graças à digitalização, à busca global por profissionais qualificados e, claro, ao trabalho remoto.
Quer entender melhor o que é um nômade digital e como se tornar um? Então continue lendo para mergulhar nessa possibilidade que não tem fronteiras.
O que é nômade digital?
O nômade digital é a pessoa que escolhe adotar o trabalho remoto como um estilo de vida, usando a tecnologia como principal meio para se sustentar e tendo a liberdade de se locomover pelo mundo, sem amarras a um local físico.
Os nômades digitais usam o trabalho remoto para ganhar dinheiro e realizar o sonho de conhecer o mundo.
Não há pré-requisitos de tempo de permanência ou número de países visitados para você ser considerado um nômade digital. Basta escolher ser um trabalhador ou empreendedor remoto cuja fonte de renda não exige moradia fixa, apenas conexão à internet e ferramentas digitais.
Quanto ganha um nômade digital?
Segundo pesquisa realizada em 2023, a renda média de um nômade digital dica entre US$ 50.000 e US$ 123.000 ao ano, e os ganhos por hora ficam entre US$ 10 e US$ 30. Os nômades digitais com maior renda atuam com desenvolvimento de sistemas, design gráfico e TI.
De qualquer forma, não existe uma única resposta certa para essa questão, já que os ganhos flutuam e dependem muito da profissão ou serviço realizado. Para quem é autônomo ou freelancer, combinar múltiplas fontes de renda garantem conforto e é uma boa solução para quem consegue gerenciar bem o tempo. Há quem prefira a estabilidade de um trabalho em tempo integral, e a flexibilidade de horários depende dos termos do empregador.
Vantagens de ser um nômade digital
Trabalhe de qualquer lugar
A vantagem mais óbvia é poder trabalhar de qualquer lugar do mundo, desde que a conexão de internet seja confiável. O sentimento de estar preso a um lugar apenas por ser onde sua empresa está não existe, afinal, você mesmo pode ser seu chefe.
Gestão de tempo
A liberdade de poder transitar entre bairros, cidades e países, além da flexibilidade quando você mesmo toca seu próprio negócio, é incomparável. Nada de ficar no ônibus enquanto se desloca para o escritório, esse pode ser um momento de descobrir novas paixões e hobbies pelo mundo.
Novas visões de mundo
Quando seu expediente acabar, você terá um novo mundo para explorar. Conhecer novos lugares e pessoas pode expandir sua visão de mundo, e cada experiência será um aprendizado que você jamais teria ficando na sua zona de conforto.
Desvantagens de ser um nômade digital
Nem tudo são flores (ou aventuras) na vida de um nômade digital, principalmente se você está acostumado a ir trabalhar em um escritório por oito horas ou com o conforto do seu home office.
Desafios financeiros
“No começo, é bem difícil. Você precisa ficar esperto e encontrar maneiras de garantir um fluxo de renda mínimo todo mês. Uma das melhores e mais eficientes formas de fazer isso é criar fontes de renda passiva”, explica Martina Russo, uma tradutora apaixonada por viajar.
Se você é um empresário independente ou freelancer como ela, não subestime a importância de uma renda com a qual você pode contar. Além disso, se for possível, busque diversificar as fontes de renda para que a sua subsistência não dependa de um cliente só. Às vezes, o inesperado acontece e você fica sem poder trabalhar por um tempo, e a situação fica ainda mais difícil se você não guardou dinheiro para os períodos de vacas magras.
“Não guarde todos os seus ovos em uma cesta. Já passei por momentos difíceis em que fiquei sem trabalhar por seis meses. Quando você é freelancer, ter um plano B é fundamental. É imprescindível poupar [dinheiro]. Eu não tinha esse hábito até aprender na pele o quanto isso é importante quando você tem o seu próprio negócio”, revela Martina.
Carolina Walliter, nômade, tradutora, intérprete e escritora nascida e criada no Rio de Janeiro, acrescenta que também é importante levar em consideração a(s) moeda(s) em que você ganha dinheiro e a moeda em que você vai viver no seu destino nômade: “Antes de bater o martelo sobre Buenos Aires, namorei a ideia de ir para Edimburgo, cidade que já visitei e gostaria de passar uma temporada mais longa. Porém, em 2014, a maior parte da minha cartela de clientes ainda era composta por brasileiros, logo, não quis arriscar contaminar a minha aventura com preocupações, ganhando em real para viver em libras esterlinas.”
Fuso horário
Também fique atento às diferenças de fuso que podem obrigá-lo a trabalhar em horários inusitados para atender clientes e prazos. Portanto, leve o fuso horário em consideração ao planejar onde você quer passar os próximos meses ou mais como nômade digital.
Visto de trabalho
Os requisitos de visto em alguns países podem ser muito rigorosos e variam de acordo com o país. Muitos pedem uma comprovação de renda ou vínculo empregatício no país de origem para conceder a permissão de entrada, além de exigir uma certa quantia de dinheiro em sua conta bancária.
Por outro lado, com a crescente dos nômades digitais, países como Costa Rica, Itália e Espanha oferecem vistos específicos para trabalhadores remotos. Sempre pesquise os requisitos de visto do país antes de se estabelecer.
Expectativa vs. Realidade
A Carolina faz um alerta para quem está cogitando ser nômade digital: “O deslumbre com esse estilo de vida é perigoso: além de ter um recorte socioeconômico evidente, que inviabiliza a prática para a pesada maioria da população brasileira, essa coisa de viajar e trabalhar me rendeu três anos seguidos sem férias. É mais difícil “sair do trabalho” quando você o carrega nas costas para todos os lugares.”
Em outras palavras, por mais ousado que pareça, é necessário ter todo esse cuidado quando você abre mão de uma estrutura mais tradicional de trabalho em prol da liberdade.
Como se tornar um nômade digital
1. Tenha um plano para ganhar dinheiro
De acordo com Martina Russo, a pergunta certa a se fazer não é “como posso me tornar um nômade digital?”, mas sim: “Eu sou bom em quais atividades? O que eu gosto de fazer? Do que as pessoas precisam? Posso trabalhar viajando e sustentar meu estilo de vida?”
Não existe um conjunto de habilidades específicas para ser um nômade digital. Basta ser bom no que você faz e ser capaz de vender o seu trabalho, produtos ou serviços pela internet.
Os três requisitos básicos para fazer se tornar um nômade digital são:
- Um fluxo de renda (ou mais que um) que seja 100% sustentável remotamente.
- Um notebook e uma boa conexão de internet onde quer que você vá.
- Domínio dos conceitos de finanças pessoais e de gestão de fluxo de caixa para viver de acordo com a sua renda.
Ela diz que se tornar uma nômade digital não foi nada planejado. Entretanto, ao se formar em Tradução, Martina transformou a profissão em um negócio freelance passível de ser totalmente administrado online – e prazeroso de se desenvolver criativamente em qualquer lugar.
Martina também tem um e-commerce que vende adesivos para outros profissionais remotos mostrarem o que fazem para o mundo.
A ideia desse negócio secundário surgiu quando ela estava na Croácia, trabalhando em um café. As pessoas costumavam olhar para ela com curiosidade, querendo entender o que ela estava fazendo ali. Assim, ela criou o adesivo “Translator At Work” (Tradutor Em Ação) e o colou em seu laptop, dando o seguinte recado: “Eu não estava ali simplesmente usando e abusando da internet do café para assistir Netflix. Eu estava ali para trabalhar.”
Sua ideia de produto foi bem recebida por outros profissionais remotos (copywriters, revisores, desenvolvedores) de sua rede que viram o adesivo, e ela decidiu transformar esse “recado” aos curiosos em um e-commerce. Martina ainda fez questão de fechar uma parceria com um fornecedor de confiança para atender aos pedidos remotamente.
2. Leve somente o necessário
Os nômades se mudam para lugares diferentes o tempo todo, e para ter essa flexibilidade eles precisam viver com menos coisas. Você não pode levar todos os seus pertences com você para onde quer que vá. Por exemplo, você pode ter que viver sem muitas roupas ou sem sua TV de 60 polegadas.
Você também vai querer cortar despesas desnecessárias como mensalidades de academia, assinaturas e dívidas com juros altos. Livrar-se desses custos desnecessários permitirá que você aproveite a vida (e o trabalho) na estrada.
3. Tenha um seguro saúde
O seguro saúde para viagem é essencial para nômades digitais. Para começar, se você estiver viajando para um novo país, você pode ter doenças relacionadas à viagem, como intoxicação alimentar ou malária, ou se machucar em uma trilha e precisar chamar um médico.
Algumas maneiras de obter seguro de viagem incluem:
- Comprar cobertura por meio de uma empresa especializada;
- Obtendo uma apólice por meio do seu empregador;
- Acessar o sistema público de saúde, se o país oferecer cobertura.
É bom lembrar que poucos países oferecer um sistema público como o SUS no Brasil, e um plano de saúde com cobertura global não fica barato. Por isso, é importante colocar o seguro saúde como despesa fixa e garantir que sua renda cubra esse investimento necessário – daquele tipo que deve ser pago para não precisar usar.
4. Atente-se às burocracias (tanto do exterior quanto do país de origem)
Como controlar suas movimentações bancárias? Quais documentos levar? E quais documentos ter no Brasil caso precise resolver algo por aqui mesmo estando do outro lado do mundo?
Desde a menor burocracia, como ativar um chip de celular na Bolívia, até as mais cabeludas, como uma procuração para deixar um representante legal no Brasil, tudo deve estar no seu radar para diminuir as chances de ter uma grande dor de cabeça.
Informe-se sobre as particularidades dos lugares por onde pretende passar, como, por exemplo:
- Principais provedores de internet e planos disponíveis;
- Métodos de pagamento mais comuns;
- Possíveis ferramentas de trabalho que só funcionam com VPN.
No Brasil, garanta que documentos e contas estejam organizadas:
- Cancele contas bancárias que ficarão em desuso;
- Deixe uma procuração de representante legal no Brasil;
- Acompanhe os prazos para fazer sua declaração de renda, caso se aplique.
As melhores profissões para nômades digitais
O único pré-requisito para adotar um estilo de vida nômade é poder trabalhar 100% remoto para bancar suas andanças pelo mundo. E existem mais profissões que preenchem essa exigência do que você poderia imaginar.
Muitos especialistas da Shopify também trabalham remotamente como desenvolvedores, designers e profissionais de marketing para lojistas, ajudando-os a construir suas lojas virtuais e a cultivar o seu negócio.
Dono de e-commerce
Os empresários de e-commerce muitas vezes conseguem ter a liberdade de trabalhar viajando porque buscam resolver uma etapa fundamental que toda loja online tem e que poderia “prender” um negócio a um local fixo: estoque e fulfillment.
Muitos superam esse obstáculo com o dropshipping. Outros (como Martina) encontram um fornecedor confiável para enviar os pedidos aos clientes. Também existe a opção de trabalhar com produtos digitais que dispensam inventário físico.
Com uma dessas soluções implementadas, os donos de e-commerce podem gerir o próprio negócio, do marketing até o atendimento ao cliente, enquanto estão na estrada, terceirizando funções à medida que crescem para ter mais tempo livre.
Escritor, revisor e tradutor
Quase qualquer trabalho que envolve escrita pode ser feito remotamente. Criar conteúdo, editar livros, entrevistar alguém para um artigo ou redigir um texto publicitário para um site, tudo isso pode ser feito sem que você precise estar na mesma sala que o seu cliente.
Para exercer essas funções, basta encontrar um empregador favorável ao esquema de trabalho remoto ou criar seu próprio negócio e marca como uma agência ou profissional autônomo.
Desenvolvedor ou designer
São algumas das profissões mais procuradas em plataformas de oferta de trabalho remoto. Você pode até criar seus próprios produtos e transformá-los em uma fonte de renda. Designers podem vender templates e imagens em plataformas de banco de imagens, por exemplo.
Profissional de marketing
Praticamente todas as ferramentas de que um profissional de marketing precisa podem ser acessadas de seu laptop. E já que a maior parte do material de marketing digital é mensurável, os clientes e empregadores conseguem facilmente manter esses profissionais responsáveis pelo marketing de seus negócios mesmo quando eles estão trabalhando do outro lado do mundo.
Atendimento ao cliente
As profissões de atendimento ao cliente foram umas das primeiras a entrar na onda do trabalho remoto, já que todas podem ser executadas por telefone, e-mail ou chat.
O serviço de atendimento também é perfeito para o modo remoto porque as empresas precisam de equipes espalhadas pelo mundo inteiro, em diversos idiomas, para oferecer atendimento 24 horas.
Profissões inusitadas
Os exemplos acima são candidatos óbvios para o trabalho remoto. Porém, cada vez mais profissões estão adotando a tecnologia como uma forma de interagir com os clientes sem a necessidade de estar no mesmo local físico que eles. Existem até carreiras novas sendo criadas especialmente para o trabalho remoto, como a função de assistente virtual em tempo integral.
Aqui estão outros exemplos:
- Personal trainer
- Psicólogo
- Contador
- Profissional de recrutamento e RH
- Gestor de projeto
- Professor/Tutor
“Há pessoas trabalhando com coisas que sequer imaginava serem possíveis de ser realizadas remotamente, como educadores físicos, psicólogos, entre tantas outras profissões [estabelecidas] que eu jamais pensei que poderiam ser exercidas online. Além disso, os clientes estão cada vez mais abertos a aceitar esse modo de trabalho”, revela Martina.
Os melhores lugares para um nômade digital trabalhar
Naturalmente, alguns países serão mais adequados ao seu estilo de vida e renda como nômade digital do que outros.
De acordo com o Nomad List, uma comunidade online e banco de dados sobre cidades para nômades digitais, as cinco cidades melhor avaliadas para trabalhar remotamente, com base no feedback dos próprios nômades, são:
Mas o mundo é um lugar muito maior do que essa lista e cada cidade tem suas próprias peculiaridades e custo de vida.
O Nomad List também reúne comentários de sua rede de nômades digitais, que avaliam as cidades seguindo uma lista extensa de fatores que você sequer cogitou considerar. Você encontra listas de comentários sobre diferenças culturais acerca da liberdade de expressão e como habitantes amigáveis tratam os estrangeiros, até informações sobre acesso a serviços de carona e velocidade de internet. Essa avaliação minuciosa informa até quanto custa uma xícara de café em determinado lugar e qual o melhor espaço de coworking da região.
Não deixe de conferir o Nomad List se você está pensando em trabalhar fora do país. A plataforma é um recurso valioso para trabalhadores remotos e empresários viajantes, para que saibam onde eles estão se aventurando antes de decidir seu próximo destino.
Trabalhar do sofá de casa ou de qualquer outro país
Se tornar um nômade digital é uma oportunidade incrível que tem tudo para se tornar mais comum à medida que a tecnologia evoluir, dando mais condições para esse estilo de vida, e conforme as pessoas desconstruírem a noção de que trabalho só pode ser feito no escritório.
A mesma mudança na forma como trabalhamos, e que nos permite fazê-lo do sofá de casa, também deixa que os apaixonados por viagens não precisem mais escolher entre trabalhar e viajar; você pode fazer os dois ao mesmo tempo!
Se você adora viajar e está cansado de esperar as férias chegarem para conhecer o mundo, talvez seja interessante averiguar como você pode passar a trabalhar remotamente, para que viajar deixe de ser uma fuga e se transforme no seu estilo de vida.
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Perguntas frequentes sobre nômades digitais
Como virar um nômade digital?
Nômades digitais têm contextos e objetivos diferentes, então não há uma resposta única para todo mundo. É importante economizar dinheiro o suficiente para se sustentar enquanto viaja, e você precisa se sentir confortável trabalhando remotamente, sem perder o foco. Viver um estilo de vida nômade traz desafios como saudade de casa, mas pode ser uma experiência emocionante e gratificante se você estiver pronto para o desafio.
Como os nômades digitais ganham dinheiro?
Nômades digitais podem ter uma ou mais fontes de renda. Freelancers e empreendedores online normalmente encontram trabalho por meio de plataformas de empregos remotos ou vendem seus serviços diretamente para clientes. Ha quem opte por ter um trabalho em tempo integral que se encaixe ao estilo de vida nômade.
Qual o perfil dos nômades digitais hoje?
Em 2023, a Localyze destacou os seguintes dados sobre os nômades digitais:
- 47% está na faixa dos 30 a 39 anos, enquanto 14% está nos seus 20, e os demais têm mais de 40 anos.
- A maioria dos nômades digitais são norte-americanos.
- Existem mais nômades digitais do sexo masculino do que de qualquer outro gênero.